Golpe na Bolívia: ao perder na vontade popular, direita utiliza violência para derrubar governo

No barril de pólvora que se tornou a política latino-americana nesta década, mais uma vez a violência ataca um projeto de nação que se construía com base no crescimento e respeito às vontades de seu povo. Assim como ocorreu em Honduras contra Manuel Zelaya em 2009, no Paraguai contra Fernando Lugo em 2012, no Brasil contra Dilma Rousseff em 2016 e no Equador contra Rafael Corrêa em 2017, a Bolívia passa atualmente por mais um golpe institucional que tem o objetivo de barrar todo e qualquer projeto de progresso dos povos da América Latina.

O roteiro do golpe contra Evo Morales e contra seu partido, o MAS (Movimento al Socialismo), é bem conhecido. Após sucessivas derrotas eleitorais, a direita boliviana se cansou de apanhar nas urnas e resolveu bater nas ruas. Apoiadas por interesses escusos e escondida sob um pretexto de “reforçar o nacionalismo e resgatar os valores cristãos” no país, as milícias apoiadoras de Luiz Fernando Camacho, começam a espalhar o terror pelo país. Ataques a políticos próximos a Evo, a familiares do presidente, aos representantes do Superior Tribunal Eleitoral, a sindicalistas e a comunicadores populares dão a tônica de descontrole e caos no país propícias para o discurso de “alternância democrática” que sempre é defendido quando a direita não consegue conquistar a simpatia da população nas urnas.

Em resposta, Morales ainda tenta apaziguar os ânimos. Em um primeiro movimento, chama todas as forças políticas para o diálogo. Sem sucesso, segue recomendação da OEA (Organização dos Estados Americanos), que foi convidada pelo mesmo para acompanhar o processo eleitoral, e convoca novas eleições. Mas nenhuma iniciativa institucional seria suficiente para aplacar a violência da direita no país. As Forças Armadas dão o golpe de misericórdia na vontade popular e destituem o presidente, que não tem outra alternativa a não ser o exílio.

 

Nos últimos anos, sob o comando de Evo Morales, a Bolívia viveu um dos maiores progressos econômicos e sociais de sua história. Com crescimento de mais de 5% ao ano, o país conta com enormes reservas de gás natural; tem a maior reserva de lítio do planeta (material indispensável para o desenvolvimentos de tecnologias de armazenamento de energia); e o governo boliviano anunciou no ano de 2015 que foram descobertas reservas de petróleo depois de 23 anos de tentativas. Com todos esses aspectos, o país chamou a atenção da comunidade internacional pela possibilidade de se tornar uma potência regional nas próximas décadas.

Politicamente, no entanto, a Bolívia é um país dividido. Parte de seu território (os departamentos Pando, Beni, Santa Cruz, Chiquisaca e Tarija), nos quais estão os setores mais conservadores do país, é declaradamente contra Evo Morales. Estes setores mais reacionários, assim como os dos demais países da América Latina, são alimentados por um sentimento de ódio contra qualquer prática progressista e tem um total viés de entreguismo e subserviência às potências internacionais. Já os departamentos de La Paz, Cochabamba, Oruro e Potosí, que concentram a maior parte das populações indígenas, são apoiadores históricos de Morales e defendem as conquistas históricas do governo. Com o golpe, setores apoiadores de Evo foram às ruas para reivindicar a saída dos golpistas de La Paz e iniciaram marcha em direção a capital, o que pode acirrar os ânimos e conduzir o país a um conflito civil sem precedentes.

O Sintuperj se posiciona frontalmente contra o golpe na Bolívia, por entender que as conquistas do povo não podem ser destruídas de nenhuma forma. Apoiamos a luta do povo boliviano e a defesa da prática democrática, reivindicando o respeito à soberania popular. A escalada de violência promovida pela direita boliviana e pelas Forças Armadas do país não cabe de nenhuma forma na América Latina, assim como golpes institucionais devem ser repudiados de maneira veemente.