Escravidão em tempos de pandemia

Lá se vão 132 anos desde a abolição oficial da escravatura em terras brasileiras, no dia 13 de maio de 1888. Desde então, o país tem assistido ao advento de políticas públicas de inclusão social da população negra que, na prática, continuou sendo relegada à posição subserviente. Desta constatação, advieram novas roupagens para o trabalho escravo classificados como análogos à escravidão.

O novo formato de exploração da força de trabalho não poupou sequer os trabalhadores legalmente reconhecidos. Para além do salário mínimo, que não garante o básico, e de suas defasagens resultantes da sede lucrativa dos empregadores, as condições de trabalho são uma das marcas mais perceptíveis do desapareço que os braços que movem a economia ainda padecem.

A atual crise pandêmica oriunda da Covid-19 e a voracidade com que algumas autoridades políticas, em conjunto com a classe empresarial, com que tentam a todo custo colocar fim à quarentena social evidencia de forma gritante como muitos empresários enxergam os seus empregados: pessoas descartáveis que apenas lhe servem aos lucros, sem nenhum apreço pelas suas saúdes. Os únicos, vale lembrar, que para cumprir sua labuta precisariam se expôr ao contato em massa sobretudo nos meios de transporte.

Infelizmente a negligência com a classe trabalhadora atinge também quem sequer pode ficar isolado em casa. Os profissionais da Saúde, que neste momento veem sua atuação ganhar importância como em raros precedentes, estão se tornando uma das faces mais cruéis da falta de condições adequadas de trabalho, como luvas, máscaras entre outros insumos que compõem os EPI (equipamento de proteção individual). Em publicação do site Brasil de Fato (https://www.brasildefato.com.br/2020/05/12/no-dia-da-enfermagem-brasil-e-lider-mundial-em-morte-de-profissionais-por-covid-19), o país já aparece com mais mortes de profissionais de Saúde do que Estados Unidos, Itália e Espanha juntos. Isso com a chegada do vírus em nosso território ter ocorridos posteriormente aos dois últimos e de ainda nos encontrarmos relativamente longe do período considerado pelos epidemiologistas como o ápice da pandemia no Brasil.

Diante de tal cenário e corroborando algumas análises que defendem que a sociedade não será mais a mesma após a pandemia, caberá aos trabalhadores refletirem sobre em que condições prestam os seus serviços e compreenderem que sua saúde física e mental lhes são mais importantes do que os lucros de sua empresa.

As correntes já se partiram!