Procurado pela Diretoria Executiva do Sintuperj, diretor do Hupe afirma que unidade tem EPIs em estoque para os próximos 30 dias

O Sintuperj, sindicato que é legítimo representante dos servidores técnico-administrativos de Uerj,  Uenf e Uezo, tomou ciência através de sua Diretoria Executiva, eleita democraticamente e por seguidas vezes (o que denota a aprovação da imensa maioria de seus representados), de um ato promovido por um grupo que se coloca como oposição ao sindicato. O motivo seria a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para os trabalhadores do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Uerj (Hupe), o que levou a direção do sindicato a averiguar a denúncia.

É necessário apontar a irresponsabilidade da convocação de um ato neste momento em que todas as atenções dos profissionais das áreas ligadas à saúde estão dedicando suas vidas para atender a população. A Diretoria Executiva do Sintuperj não foi consultada sobre este movimento e não apoia qualquer iniciativa que coloque os profissionais ou pacientes do Hospital Universitário Pedro Ernesto em risco. A aglomeração de pessoas em um ato neste momento pode provocar uma ampla disseminação da COVID-19 não só para os participantes do ato, mas também para a população que tem a necessidade de passar pelo entorno do hospital.

A atual Diretoria Executiva do Sintuperj enfatiza sua luta incessante em defesa não só de seus associados, mas a todos os trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais, em especial aos da área da saúde que neste momento de pandemia estão se dedicando no combate à COVID-19. Batalhamos pelo reconhecimento do grau máximo de adicional de insalubridade aos profissionais expostos, trabalhando nas frentes de atuação judicial e co-atuação política junto ao Legislativo, na Alerj. Além disso, defendemos a liberação dos profissionais que estejam enquadrados em algum dos grupos de risco da COVID-19 e a efetivação dos candidatos aprovados em concurso público.

Também há o contato direto com Lilian Bhering, enfermeira da Uerj lotada no Hupe, eleita conselheira universitária (em chapa composta com membros da atual gestão do Sintuperj) e que neste momento se encontra em Brasília como membro da Comissão Nacional de Urgência e Emergência, espaço misto composto por membros do Ministério da Ciência e Tecnologia, do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e da Organização Mundial de Saúde (OMS). O conselho, que estende seus trabalhos presenciais até o próximo dia 24/05, tem como objetivo traçar estratégias para a mitigação da mortalidade da população e a defesa dos profissionais de saúde que estão expostos à doença.

Outra área de atuação do Sintuperj em defesa dos profissionais da área da saúde foi o lançamento de um abaixo assinado nas mídias sociais, no qual solicita ao governador o pagamento de insalubridade de grau máximo  aos funcionários expostos à  COVID-19.

A pandemia da doença conhecida popularmente como Coronavírus demanda muitos esforços das unidades de saúde e suas equipes, que estão se desdobrando para atender o crescente aumento de casos e internações. O Sintuperj reconhece e exalta a dedicação de todos os trabalhadores da área da saúde que estão na linha de frente contra a COVID-19, em especial os lotados nas unidades da Uerj (Hospital Universitário Pedro Ernesto e Policlínica Piquet Carneiro).

Com a extensão da pandemia, existe a ameaça de que as unidades de saúde passem por dificuldades para aquisição de equipamentos de proteção, insumos e medicamentos usados no combate à doença, pois há um crescente aumento da demanda.

Para esclarecer quais são as necessidades mais urgentes da unidade e como o Hupe está administrando seus estoques de equipamentos de proteção individual, insumos e medicamentos, o Sintuperj conversou com o diretor do Hupe, Ronaldo Damião.


Sintuperj – A primeira pergunta é sobre a quantidade de atendimentos que o Hupe está realizando e que são voltadas especificamente para os casos de COVID-19. Quantos leitos foram disponibilizados pela unidade, tanto de enfermarias quanto de UTI? Essa disponibilidade de leitos provocou um aumento de insumos?

Dr. Ronaldo Damião – Fazemos diariamente em torno de 06 (seis) internações de pacientes COVID-19 em leitos de enfermaria e de terapia intensiva. O setor de triagem realiza de 50 a 60 atendimentos diários dos pacientes das diversas especialidades que compõe grupos de altíssimo risco, acompanhadas em nossos ambulatórios (oncologia, hematologia, nefrologia, neurologia, transplante, pneumologia, cardiologia, reumatologia, gestação de alto risco).

Ativamos sem prejudicar nosso atendimento regular exclusivamente para pacientes COVID-19. São 53 novos leitos de CTI adulto, 06 leitos de CTI pediátrico, 04 leitos de CTI para neonatos, 79 leitos de enfermaria de adulto e 10 leitos de enfermaria pediátrica.

No Hupe foram internados desde o dia 01 de março de 2020 um total de 416 pacientes, dos quais 242 já tiveram alta hospitalar. Também já foram realizados pela PPC [Policlínica Piquet Carneiro] 5.668 testes para COVID.

Sintuperj – É importante que a gente esclareça para as pessoas que não são da área da saúde como funciona a aquisição de materiais e insumos pelas unidades hospitalares públicas. O Hupe tem autonomia para a compra desses materiais? De onde vem o dinheiro?

Dr. Ronaldo Damião – O Hupe possui orçamento próprio e adquire os insumos através de processos de compra baseados na Lei Federal nº 8.666/93. Os recursos originam-se do Tesouro Estadual e do SUS pagos pela sua produção.

Sintuperj – Qual a maior necessidade de equipamentos e insumos para reforçar os estoques do Hupe? Existe uma previsão para a aquisição desses materiais?

Dr. Ronaldo Damião – As necessidades mais urgentes são de medicamentos, pois o consumo de algumas drogas aumentou em escala geométrica. Os principais itens são:

– Bloqueadores neuromusculares (rocurônio);

– Sedativos (midazolam e propofol);

– Analgésicos (cetamina e fentanil);

– Antibióticos (amoxacilina-clavulanato, ceftriaxone, azitromicina, ceftazidime, ticarcilina-tazobactam, amicacina, polimixina, linezolida e vancomicina);

– Corticóides (hidrocortisona e metilprednisolona);

– Anticoagulantes (enoxaparina);

– Vasopressores (norepinefrina e vasopressina);

– Bloqueadores da bomba de prótons (omeprazol)

– Antivirais (oseltamivir).

Todos os medicamentos anteriormente citados estão em processo de aquisição pelo hospital.

Com relação a equipamentos, temos necessidade de ventiladores e monitores multiparâmetro para abrir e equipar as novas unidades, além de aparelhos móveis de radiografia digital que são essenciais aos cuidados beira leito de pacientes instáveis e críticos. Já foram adquiridos 20 monitores e 46 ventiladores pulmonares.

Sintuperj – Algumas unidades da Uerj passaram a produzir equipamentos como o Faceshield e insumos como o álcool em gel para suprir parte da demanda do Hospital Universitário Pedro Ernesto e também da Policlínica Piquet Carneiro, que é a outra unidade de serviços de saúde da Universidade. Essa produção impactou positivamente no Hupe? O apoio é considerado satisfatório?

Dr. Ronaldo Damião – Totalmente satisfatório, pois vivíamos um momento difícil no qual os insumos estavam em falta no mercado ou com preços majorados. Houve uma colaboração da Escola Superior de Desenho Industrial que está produzindo protetores faciais (Faceshields) e máscaras de pano, conectores de ventiladores pulmonares e presilhas para fixação e reparo de máscaras de ventilação não invasiva. A Escola de Química nos supriu com álcool 70 e álcool gel, insumos também essenciais ao funcionamento do hospital, que estava em falta no mercado. Temos recebido muitas doações de EPI de pessoas físicas e jurídicas (máscaras cirúrgicas, N95, luvas), álcool 70 e álcool gel. A distribuição dos EPI tem sido coordenada pela CCIH [Coordenadoria de Controle e Infecção Hospitalar] de acordo com as normas técnicas em vigor da ANVISA.

Sintuperj – Os equipamentos de proteção e insumos que o Hupe tem em estoque garantem o atendimento da unidade até quando?

Dr. Ronaldo Damião – Por pelo menos 30 dias, considerando o consumo atual. Até o presente momento não ocorreu desabastecimento de nenhum EPI em nossa unidade. No entanto, os preços praticados no mercado aumentaram significativamente e vários fornecedores não conseguiam entregar os insumos nas quantidades necessárias. O setor de compras do hospital tem grande dificuldade na busca por fornecedores e o melhor preço possível.

Sintuperj – O Hospital Universitário Pedro Ernesto da Uerj fez uma campanha de arrecadação para aumentar o número de leitos de UTI. Essa campanha ainda está em vigor? Ela já deu resultados?

Dr. Ronaldo Damião – Sim, uma conta da Uerj destinada a adquirir materiais e insumos para o atendimento a pandemia já arrecadou mais de 5 milhões de Reais de pessoas físicas e jurídicas. Vários grupos de ex-alunos também formaram grupos para adquirir EPI e equipamentos essenciais. Algumas empresas e pessoas físicas doaram diversos materiais e equipamentos ao hospital e esta ajuda tem sido essencial.

Sintuperj – O combate à COVID-19 não é feito apenas com equipamentos e insumos, mas principalmente com profissionais da área da saúde. E mesmo com esses trabalhadores tomando todos os cuidados necessários, sempre existe a ameaça de contágio. Há no Hupe profissionais afastados por conta da doença? De que maneira o COVID-19 impactou as equipes do hospital?

Dr. Ronaldo Damião – Temos um grande número de afastamentos por COVID-19, porém ressalto que a contaminação não ocorre obrigatoriamente no Hupe. Ela pode acontecer em outros locais de trabalho do servidor ou fora de ambientes hospitalares (deslocamentos, contatos sociais, mercados, família). Em média 20% da força de trabalho fica afastada.

Sintuperj – Vamos fechar essa entrevista com a última pergunta. O contingente de profissionais do Hupe é suficiente para atender a demanda da unidade? Seria necessário um aumento do efetivo de trabalhadores para melhorar o atendimento?

Dr. Ronaldo Damião – O contingente regular é insuficiente, pois:

– Temos um grande número de afastamentos por motivos de saúde, que foi associado à restrição de atuação na linha de frente dos servidores idosos, portadores de comorbidades e que pertencem ao grupo de risco.

– Foram ativadas novas unidades de terapia intensiva (que necessitam de recursos humanos mais numerosos e especializados que não possuímos em nossos quadros).

Assim foi necessário acrescentar alguns profissionais a nossa força de trabalho para podermos executar esta missão.